
Quem divulgou este dado foi a Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem, o chamado Talis da OCDE que ouviu 100 mil professores de ensino fundamental e diretores escolares em trinta e quatro países. São muitas diferenças e a situação dos professores brasileiros é uma das piores. Enquanto que a média internacional é de 31% no Brasil nós temos somente 12% da categoria que se sente valorizado.
Logicamente nos países em que o professor se sente mais valorizado o desempenho no PISA também é melhor. Segundo fontes da pesquisa, os professores brasileiros estão nos que mais trabalham com 25h por semana, contabilizando um total de 6h a mais que a média internacional.
No quesito horas de trabalho a Finlândia sempre é citada como um dos países com menos carga horária para os professores. Fato que aumenta a aura do “segredo”, pois é difícil entender que com tão poucas horas o país consigua ser um dos tops em educação.
Neste ponto vou pedir permissão aos envolvidos na pesquisa para descordar. Muitos são os mitos sobre a educação finlandesa que vêm sendo difundidos estando um pouco afastados da verdadeira situação.
Em relação a carga horária finlandesa:
- 1 e 2 série o professor trabalha 19h por semana.
- 3 e 4 série o professor trabalha 23h por semana.
- 5 e 6 série, 24h por semana. Aí já estamos quase equiparados
- 7, 8 e 9 séries, o professor trabalha 30h por semana. Aí os professores finlandeses ultrapassaram as horas trabalhadas pelos brasileiros.
Isto mostra que os professores finlandeses trabalham tanto ou mais que os professores brasileiros. Pelo menos segundo os dados que foram apresentados pela pesquisa.
A mesma pesquisa mostra que a Finlândia é o país que valoriza mais os seus professores. E entre a classe, mais da metade consideram a sua profissão valorizada. Na vizinha Suécia, apenas a metade. As pesquisas mostram que 90% dos professores está satisfeito com a profissão e considera que ser professor tem muito mais vantagens do que desvantagens.
No Brasil nós temos as porcentagens ao contrário, pois a mesma pesquisa indica que 90% dos nossos professores estão insatisfeitos. Quais os fatores que levam a este grau de satisfação dos finlandeses?
Posso afirmar que a questão não está correlacionada ao salário, que aqui o básico é 3000€. Conversando com as minhas colegas professoras vejo que a maioria gostaria sim de ganhar mais e acha que considerando o trabalho que têm o salário deveria sim ser maior. Mas elas falam sempre sorrindo e não em tom de reclamação pois todas possuem um nível de vida rasoável.
Ganhar melhor seria bom claro, quem não gostaria, mas por exemplo, nos meus quase dezoito anos de vivência na Finlândia, primeiro nove e depois oito, eu nunca vi uma greve de professores, uma reclamação, ou uma conversa de descontentamento neste sentido entre os meus colegas.
Neste sentido, deve-se levar em consideração que os Finlandeses têm um grande senso de justiça e eles querem ser conhecidos por suas atitudes justas. Já que a sociedade reverte os nossos impostos em uma série de benefícios à população, seria injusto pleitear mais salário se você já tem o suficiente para viver com dignidade. Se o professor ganhasse mais e tivesse que pagar a escola do seu filho, o médico, o dentista, as várias atividades de lazer que são gratuítos e se não contasse com as ajudas sociais. Neste caso matematicamente talvez o professor sairia perdendo.
A questão da valorização é muito pessoal, será que é a sociedade que não valoriza ou a própria classe que se desvaloriza constantemente aos olhos da sociedade? A mesma pesquisa mostra que os professores que se sentem mais valorizados, tanto no Brasil quanto na Finlândia, são aqueles que conseguem os melhores resultados em sala de aula. Consequencia direta do preparo e educação continuada deste professor. Me parece que se colocarmos em númeors, alguns professores chegam a perder vinte minutos em aula antes de acalmar os alunos e iniciar a matéria do dia. Quer dizer: este professor não tem e nem sabe fazer um plano de controle de turma.
O desrespeito dos aluno brasileiros simplesmente reflete o que a sociedade propaga. Porém, um professor melhor preparado e munido de técnicas pedagógicas precisas consegue sim melhorar seus resultados em sala.
A mesma pesquisa realizada pelo TALIS em 2003 revela que 50% dos professores brasileiros não possuem a didática para embazar suas práticas de ensino e não sabem lidar com as situações corriqueiras de uma sala de aula.
Isto se deve ao fato de que a maioria das nossas faculdades dão mais ênfase em teorias pedagógicas do que o ensino da prática didática e estamos colhendo os frutos de escolhas erradas.
O modelo educacional finlandês, auxilia na criação de uma rotina pedagógica que oferece ao mesmo tempo normas claras de conduta e proteção aos alunos. As crianças estando num ambiente amigável e seguro respeitam mais o professor. No ensino fundamental a tendência é que o mesmo professor acompanhe os alunos pelos seis anos consecutivos, deste modo cria-se uma forte relação professor-aluno-pais que garante a este professor não só conhecer melhor todas as especifidades dos seus alunos e pais, como adquirir os melhores resultados. Ao adquirir estes resultados, o PISA demostra que os alunos finlandeses têm obtido ano após ano os melhores resultados isto volta em respeito dos alunos e sociedade.
Quando pensamos na valorização ou não do nosso quadro de docentes, uma coisa fica bem clara: o Brasil não está investindo em seus professores! Este investimento não são a criação de seminários e mais encontros onde são discutidos teorias pedagógicas , este investimento deveria ser direto no professor. O professor muitas vezes está sozinho com seus problemas e inseguranças e precisaríamos investir mais no atendimento contínuo deste profissional, seja pelos pedagogos ou por psicólogos escolares.
Cursos de formação continuada com programas mais objetivos que pudessem orientar de forma efetiva e levar a aplicabilidade dos conhecimentos adquiridos para a sala de aula. Isto deixaria os nossos professores mais seguros. Pois o descontentamento está muito mais ligado a incapacidade do docente de conseguir uma boa e efetiva didática com seus alunos do que com o baixo salário.
Por: Evelyse Eerola
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