Ensino religioso na escola finlandesa

religião

Os finlandeses são conhecidos pela sua ética e aceitação das outras culturas e povos. Seguindo este pensamento, sempre foi prioridade não somente aceitar outras manifestações culturais e religiosas dos estrangeiros residentes no país, como também incentivar e gerar oportunidades para que estas manifestações possam manter-se vivas.

A Finlândia tem uma população de um pouco mais de 5 milhões de habitantes, destes 92% são cristãos (protestantes 89,67%, outros 7,7%). Os que se consideram sem religião somam 5,4%, os ateistas 1,4% e outras religiões 0,3%.

Na escola finlandesa a liberdade de religião vai além de simplesmente permitir que cada um tenha a sua, mas para o finlandês a liberdade de religião de uma família significa o direito dos seus filhos terem a mesma educação religiosa que os outros alunos. Desta forma, a escola finlandesa oferece aulas de todas as religiões uma vez por semana aos seus alunos de outras culturas. São contratados professores de religião católicos, ortodoxos, muçulmanos, etc que após o horário das aulas ensinam seus preceitos e filosofias a um certo grupo de alunos, uma vez por semana.

Durante aulas de religião curriculares ou serviços religiosos como missas de páscoa ou natal, as crianças que não possuem a religião cristã ou mesmo aquelas de pais ateus, não são obrigadas a assistir aos serviços religiosos. Para este grupo, respeitando a decisão dos pais, um professor dá uma aula especial de ética e moral, ou como chamam os finlandeses “estudo da visão de mundo”.

Quando trabalhava na escola de Iivisniemi em Espoo e estava substituíndo uma das professoras fui surpreendida com esta tarefa. Perguntei a outra professora o que tipo de aula deveria ser e ela respondeu-me que qualquer conversa que tivesse algum tom de moral ou ética para se discutir. Enquanto os outros alunos tinham aula de religião em suas respectivas salas, eu me encontrava com oito alunos na biblioteca e tinha que inventar algo coerente e até certo ponto, profundo, para ser trabalhado com eles.

Esta aula está inserida no currículo e os alunos  são liberados de suas salas de aula e se encontram uma vez por semana com alguma professora designada para conversarem sobre ética, filosofia, história, etc. Além disto, ainda têm a sua aula específica de ensino religioso uma vez por semana.

Alguns parlamentares finlandeses discordam do fato da escola oferecer diferentes ensinos religiosos. O telejornal finlandês Yle perguntou para 107 parlamentares sobre a educação religiosa nas escolas de ensino fundamental e se este não seria um dos assuntos que deveriam estar na pauta para reformas.

A maioria dos entrevistados diz preferir que a religião continue sendo ensinada e oferecida a todos da mesma forma como sempre. Ou seja, cada aluno tem o direito de estudar a sua própria religião. No entanto, 40% dos entrevistados discordam e acham que a escola deve ensinar somente uma religião, no caso a religião luterana que é a religião oficial do país, ou mesmo não ensinar nehuma. Em contrapartida, seria mais útil estudar outras religiões e filosofias, assim como preceitos gerais de ética e moral.

Segundo este pensamento, a Finlândia poderia seguir os passos de outros países europeus, como por exemplo a Alemanha, onde certas unidades da federação estão optando por aulas de filosofia e moral laica em detrimento de aulas de ensino religioso. Já na França, pais que apresenta os conflitos mais intensos da Europa com 10% de imigrantes de origem islâmica, a religião foi excluída do currículo escolar. A não ser com objetivo de científico ou histórico.

A França chega a ser um extremo, em nome da democracia, além do ensino religioso ter sido retirado das escolas públicas, os símbolos religiosos ostensivos, como a cruz na parede da sala de aula, são proibidos. Professores são proibidos de manifestarem suas crenças diante dos alunos ou ostentar símbolos religiosos. Ou seja, aquela correntinha com a cruz ou a estrela de David, se usada, tem que estar escondida.

Este grupo de paralmentares finlandeses defende que não é função do estado prover o ensino religioso das minorias e prega que as próprias famílias que queiram preservar suas filosofias e credos deveriam cuidar disto. Levando em conta que cada escola do país, que têm alunos de outras crenças, arca com os custos de contratação de professores específicos para este fim.

Alguns criticam a posição do estado em abrir tantas concessões aos entrangeiros, principalmente os refugiados, já que por exemplo, em países de religião islâmica não existe reciprocidade. Em alguns inclusive é proibido aos estrangeiros expressarem a sua própria religião.

Toda esta discussão visa não somente traçar diretrizes para uma pequena reforma curricular, mas também avaliar as ações do governo finlandês em relação ao tratamento dispensado aos estrangeiros. Estaria a Finlândia “fazendo” demais? Ou estaria apenas agindo dentro dos preceitos éticos? Afinal de contas, antes de ser uma questão propriamente religiosa ou mesmo pedagógica, a presença da religião na escola é uma questão política e com raízes históricas.

O fato de não haver reciprocidade não significaria que o governo deveria agir da mesma forma, afinal, muitos dos refugiados vêm de países sem consideração aos direitos humanos e, portanto, sem parâmetros de comparação com países europeus.

Apesar de maioria dos finlandeses reconhecerem-se como um povo afastado da religião, onde a mesma é consideranda mais como uma manifestação cultural e histórica do que uma crença orientadora. Mesmo assim, a maioria ainda defende que a educação religiosa é importante nas escolas e considera isto como uma verdadeira demostração de democracia. Dos entrevistados, apenas 8 % defendem que o ensino religioso nas escolas deveria ser excluído totalmente.

Sim, a questão é polêmica, pois uma vez instalado o processo no sistema fica muito difícil conseguir modificar. Uma questão que é uma concessão que o governo faz em prol de suas minorias, se retirada, com certesa vai gerar uma grande revolta nestes grupos que irão querer reivindicar os seus direitos de terem a sua religião nas escolas.

Com certesa estamos em época de renovação, muitas tem sido as ideias de reformas curriculares, pequenas ações como: extinação da letra cursiva, da obrigatoriedade do ensino da língua sueca, extinção do ensino religioso, etc, demonstram que a sociedade finlandesa está reavaliando os seus valores.

Ao meu ver não podemos compará-la com os países do centro da Europa, como a França, por exemplo, a Escandinávia é um “mundo” a parte, mas as influências estão por toda a parte, é a globalização. Podemos somente esperar que as mudanças que houverem sejam para melhor.

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