Transcrição da palestra da diretora do MEC da Finlândia

Jaana

TRANSCRIҀÃO EM LINHAS GERAIS:

 
É um grande prazer estar aqui hoje e ver tanta gente presente. A história da Finlândia é longa e eu vou contar um pouco desta história, assim como a base da educação finlandesa, resumidamente e falarei um pouco também sobre o PISA. Eu me sinto muito feliz em vir de um país que considera a educação extremamaente importante.

Eu poderia tomar algum crédito por isso por trabalhar no MEC, numa instituição que se poderia considerar-se responsável por este sucesso. No entanto ,  a verdade é que ieto faz parte da nossa cultura, da nossa história, já vem de longe. Todo este desenvolvimento é o reflexo da nossa história.   Nós, na verdade, modificamos inteiramente o nosso sistema educacional na década de 70. Podemos dizer que fizemos algo como uma revolução na educação. As discussões iniciaram já na década de 60 onde nós tínhamos ainda um sitema de dois caminhos. Todos iniciavam a educação básica até o quarto ano e depois disto, o aluno  deveria fazer uma escolha. Ou  ia para o caminho que lhe levaria à Universidade, pagando por isso, ou escolhia o segundo caminho que era o ensino técnico sem possibilidades de continuar os estudos até uma faculdade. Esta divisão já era feita na idade de 10 ou 11 anos. Na época, existia um grande debate político na Finlândia e isto é raro,  pois a política finlandesa é extremamente chata comparada com o Brasil. O ponto central dessa discussão era: Será que nós devemos proporcionar a educação de sensino fundamental igualitária para todas as crianças finlandesas? Ou devemos continuar benefiando aquelas que vieram de famílias melhores e ignorar aquelas que não têm uma condição financeira tão favorável? Bom a discussão foi muito pesada, a maioria dos partidos conservadores diziam que a educação na Finlândia estaria completamente arruinada, baixaria a qualidade do ensino e arruinaria o futuro a Finlândia.  No entanto, a proposta de mudança acabou vencendo esta competição e no final, como resultado, a educação da Finlândia mudou completamente. Nós estabelecemos um sistema onde o ensino fundamental é composto por nove anos de educação básica para todos e gratuitamente. Também a universidade, passou por algumas modificações  e, juntamente com o ensino secundário, tornaram-se  gratuítos. Um dos nossos principais fundamentos da educação finlandesa é que a educação tem que ser gratuíta para todos, até mesmo a universidade. Nos temos algumas escolas privadas dentro do nosso sistema educaional finlandês,  por volta de 2% são  escolas particulares, mas mesmo assim, estas não cobram mensalidade dos alunos pois são subsidiadas pelo governo. Umas das críticas em relação a este modelo é que certamente este é extremamente dispendioso, no entanto, hoje em dia a Finlândia reserva apenas 6% do PIB à educação, o que na verdade é um valor baixo, é uma quantia baixa de dinheiro. É mais baixo que nos Estados Unidos, mas baixo que aqui, e eu sei que no Brasil vocês tem planos para aumentarem para 12%. Na Finlândia, como resultado do nosso sistema educacional que provém educação gratuíta para todos não é tão dispendioso pois é tudo uma questão de como o estado organiza. Na Finlândia é muito fácil introduzir novas maneiras de organizar coisas. Depois de todo este caloroso e desgastante debate nos anos 70, pelo fato de os  finlandeses serem também pessoas muito pragmáticas, as dicussões finalmente encerram-se. As pessoas falaram, ok! Uma vez que o sistema mudou e seria horrível tentar mudar o sistema novamente em curto período, então vamos conservá-lo, embora inicialmente tenha havido toda uma grande corrente contra a reforma. Claro que alguns ajustes foram feitos. Nos anos 90 aconteceu o que nós chamamos de descentralização do sistema educacional. Nós decidimos, por exemplo, dar maior liberdade para os municípios, para as próprias escolas, também foi quando decidimos terminar com os inspetores escolares. Desta forma, nós não temos inspetores escolares na Finlâdia já por vinte anos.  Nós temos uma pré-inspeção para o material escolar que é utilizado pelas escolas. Mas e escola, professores e municípios são livres para escolher o seu prórpio material educativo, o governo não controla. Mas,  na verdade, foi muito difícil para os órgãos governamentais abrirem mão desta tarefa e dizerem: ok! Nós confiamos nas escolas e nos professores, nós confiamos que os municípios estão fazendo o seu trabalho. Nós colocamos todos os nossos esforços para estabelecer o melhor treinamento para professores e neste sentido, nós confiamos que os professores estão fazendo o seu trabalho, uma vez que que eles têm boa formação. No entanto, eu não considero que as reformas dos anos 70 e 90 explicam porque a educação na Finlândia tem um nível tão alto. Por que a profissão de professor é uma das mais procuradas na Finlândia, na qual de cada 10 que requerem a vaga, somente um passa para a faculdade de educação. Desta meneira, nós temos 10% dos melhores candidatos aspirantes a professor. Eu penso que nós devemos voltar ao século 19 quando a Finlândia fazia parte da Rússia e quando a língua finladesa era uma língua de plebeus. Nós tínhamos a língua sueca na elite e o russo na administração. Nesta época tínhamos um sonho de independência, tínhamos um sonho de estabelecer uma identidade nacional. Nós sabíamos que um dia a Finlândia iria florecer, um dia o som da Finlândia iria ecoar ao redor do mundo. Era um sonho estabelecer o próprio país. Em muitos países este mesmo sonho de indepêndencia passou pelos caminhos da violência. Na Finlândia, a guerrilha finlandesa era formada por professores, eles íam nas vilas e ensinavam as pessoas a ler e escrever e falavam que existia uma possibilidade de independência. Desta maneira, os professores foram extremamente importantes na Finlândia. Eu ainda penso que uma das mais estraordinária inovação na educação nasceu nestes tempos. Eu não sei se vocês conseguem adivinhar qual foi a inovação mais importante que a Finlândia fez no seu sistema educacional? Isto foi uma ideia muito interessante, nesta época a pessoa não tinha permissão para casar a não ser que soubesse ler e escrever. As pessoas analfabetas não obtinham a permissão da igreja para casar, você precisava mostrar uma base mínima da capacidade de ler e escrever. Uma maneira muito interessante de forçar um interesse pelos estudos básicos. Isto foi uma inovação muito simples e mais uma vez eu afirmo: Nós somos um povo pragmático, desta forma, procuramos soluções simples. Para nós, as soluções simples são as melhores e isto é um bom exemplo da cultura educional finlandesa. Como resultado, a Finlândia era um país pobre com esperanças de independência e acreditando que a educação seria a solução.  Na época da reforma em 70 nós não somente instituímos que todas as escolas seriam gratuítas, mas também que cada criança receberia uma refeição gratuíta. Hoje em dia esta prática faz parte da nossa cultura educacional e cada escola oferece o almoço para as crianças. Mas na década de 50 a Finlândia era um país muito pobre, na verdade, um dos países mais pobres da Europa e as crianças passavam fome. Penso que é uma situação muito parecida com a que vocês vivem nas favelas hoje em dia.  Mas mesmo assim, era pensamento comum que um dia a Finlândia iria florecer, ia ser um país importante e, mais uma vez, a base deste pensamento era a educação e o conhecimento. A Finlândia é um país pequeno e com poucos recursos naturais, basicamente só temos as nossas florestas e uma população muito pequena. Nós temos um pouco mais 5 milhões de habitantes na Finlândia.  Mas nós partimos do princípio de que não podemos perder nenhum indivíduo com capacidade intelectual. Se eu mostar os resultados do Pisa para vocês, podemos observar que a Finlândia está entre os primeiros lugares em muitas categorias. Isto resulta dos nossos sonhos, da luta para modificar o sistema e levamos  40 anos para chegar onde chegamos. Mas como eu já comentei, nós não podemos perder nenhum talento, nenhum cérebro e esta integração é um dos fatores muito fortes na nossa política educacional. Para vocês terem uma ideia, pelo menos 80% dos finlandeses completa a educaçao básica até o esnino médio e pelo menos 75% têm grau universitário, estes númeors são bons, mas nós somos ambiciosos e queremos que mais finlandeses consigam obter o grau universitário. Este é um dos atuais objetivos do nosso governo. Na política educaonal finlandesa, a crença e confiança são as chaves. Eu já comentei sobre o conceito “confiança” e isto é muito forte na nossa cultura, nós descentralizamos e ao mesmo tempo nós acreditamos. Nós confiamos e damos suporte à todos os níveis, professores, escolas, municípios e esta é a maneira como nós fazemos o sistema funcionar. Se nós criássemos um sistema de controle extensivo, isto não nos diria sobre a verdadeira motivação do professor, sobre a capacidade de cada profissional de educação de fazer o seu melhor e, por outro lado, isto custaria muito ao Estado. Na verdade o sistema educaional finlandês é muito simples: nós temos os níveis:  governo, municípios, escolas e professores –  bem pragmático. Nós adoramos a simplicidade! Eu já comentei sobre a educação gratuíta e outra chave para o sucesso do sistema educacional finlandês é a igualdade de oportunidades e isto é porque nós não queremos nenhum caminho sem saída fazendo parte do sistema.   Por exemplo, a mobilidade de um nível educacional para outro no sistema tem que ser possível. Não importa se o aluno escolheu um curso vocacional técnico, depois dos seus nove anos de escola básica. Mas este aluno tem que ter a oportunidade de continuar os seus estudos até os níveis mais altos, para os tecnólogos ou mesmo a universidade. Isto é um dos fatores que atraem as pessoas para cursarem os cursos vocacionais. Na Finlândia, nós entendemos que não são todos que são feitos para uma carreira acadêmica, mas nós oferecemos a oportunidade. Oferecemos também a essas pessoas um excelente ensino vocacional e memso assim, devemos manter as portas abertas ao ensino universitário. Descrevendo rapidamente o sistema educacional finlandês: Nós temos a educação infatil que é oferecida pelas creches, mas para este nível é mais uma questão de sosialização e motivação para o aprendizado posterior, nós não nos preocupamos  em ensinar.  Após, nós temos a pré-escola que é um ano, ainda opcional que pode ser oferecido tanto na creche ou já na escola que a criança vai se matricular. Nós temos 98% das crianças atualmente participando do ensino pré-primário. Na idade de 7 anos inicia-se a educação obrigatória. Muitos nos perguntam por que iniciar tão tarde, poderia ser mais cedo. Nós acreditamos que as crianças necessitam ser crianças e nós não esperamos que as nossas crianças sejam capazes de ler ou escrever antes dos sete anos. O aluno tem nove anos de educação básica onde o esqueleto do currículo nacional é dado pelo governo e os municípios e as escolas irão finalizar. O currículo final é feito nas escolas em num trabalho conjunto entre professores e diretor. Desta forma, nós temos uma grande variação em termos de currículo na Finlândia. Nós temos 98% de escolas públicas e cada uma tem o seu próprio currículo, nós esperamos que as particulares também sigam as diretrizes nacionais na construção dos seus próprios planos. Nós encorajamos as crianças  a frequentar a escola mais perto de casa, praticamente todas as crianças estudam em escolas próximas as suas casas. Não importa o quanto os pais tenham uma posição melhor, o filhos estudarão com os filhos dos visinhos. Nós acreditamos que as escolas dos bairros é a melhor opção. A Finlândia tem estado no topo do Pisa já por quatro anos, isto significa, sem falsas modéstias, que estamos agindo certo. Levando em conta que as pesquisas do Pisa também referem-se a igualdade e qualidade entre as escolas . Para nós, o mais importante que estar no topo em termos de qualidade é ver os resultados do Pisa mostrarem que as diferenças entre as escolas finlandesas são as menores do mundo. Se pegarmos uma escola situada no cetro da capital Helsinki ou uma escola rural da Lapônia, onde as temperaturas podem chegar a -40 no inverno, mesmo assim, a diferença de qualidade de ensino é muito pequena. Isto é um elemento em que as pessoas cofiam, que vão encontrar uma boa escola no seu bairro. Outro ponto que o Pisa tem revelado é que na verdade a educação finlandesa não é tão cara quanto se pode pensar, na verdade, leva muito menos investimento do que em  outros países. E atualmente, com a crise mundial que nos afeta também, isto é um fato muito importante. A educação básica é concluída por 99,7% dos finlandeses e apenas 2% de repetição e nós estamos muito felizes com isto e sabemos que não teríamos estes números se a educação não fosse totalmente gratuíta. E isto é resultado também das escolas e professores não voltarem sua atenção somente aos melhores estudantes, mas nós tentamos apoiar e tentamos manter no sistema também os alunos mais fracos. Nós acreditamos que o que acontece em sala de aula é o mais importante e para tanto, todos os professores na Finlândia devem ter o mestrado. Isto significa a maioria dos estudos são em pedagogia e metodologia geral, mais alguns créditos em alguma matéria específica e um ano adicional ainda em estudos adicionais em uma área de especialização pedagógica . Completando assim o mestrado imediatamente após a graduação. Mais uma vez, muito simples! Mas para termos bons professores não é suficiente somente a qualificação. Nós temos que cultivar a motivação dando-lhes  a oportunidade de usar as suas habilidades adquiridas na sala de aula. Por isso, os professores fazem o seu plano de aula, escolhem o método pedagógico preferido e claro, são diretamente responsáveis pelo desempenho dos alunos. Nós não temos nenhum teste nacional no sistema de ensino básico. Nós não somos muito afixionados a testes, nós estamos mais interessados em aprender. Neste sentido, é uma prática mais  saudável aos professores não ficar preocupados em fazer testes constantes e preparar os seus alunos para um teste nacional. Mas o professor tem o poder de decidir como e com que frequência fazer os seus testes em sala. Mas na verdade, o sistema educacional finlandês é cheio de paradoxos. É um sistema descentralizado mas ao mesmo tempo obtemos quase que uma homogeinização dos resultados em relação a qualidade. Esta é uma questão que permanece e as pessoas perguntam: Como? Na verdade, uma das razões é que concentramos os nossos enforços nos professores, nós não iniciamos nossas ações pelo topo. Colocamos os nossos esforços em fortalecer a base. Outro paradoxo é que nós temos menos horas aulas que o resto dos países. Nós não acreditamos que qualidade corresponde a quantidade, isto é um conceito finlandês. Nós também não temos muito tema-de-casa e nem aulas particulares após a escola. Acreditamos que um professor competente pode manter uma aula de qualidade em menos horas. Nosso desafio é produzir qualidade na educação para mais tarde termos cidadãos preparados para o trabalho nos variados níveis . Parece muito técnico mas é assim que pensamos, ainda mais nos dias atuais de crise. Outra questão é que a Finlândia tem muitos imigrantes atualmente. Nos anos noventa eramos uma nação muito homogênia, hoje não somos mais. Temos também uma disparidade de gênero e isto é um grande desafio. Me desculpem, mais eu tenho que falar que as garotas são melhores. Este é um problema real e reflete a sociedade finlandesa. Nós estamos preocupadas com os nossos garotos, são eles que ameaçam contantemente abandonar o sistema, ou seja, apresentam mais dificuldades. Este é um dos pontos que observamos no Pisa, o desempenho das garotas  superam muito o dos garotos. Eu fico imaginando que futuro teremos se os melhores estudantes forem do sexo feminino. Para nós este é um problema sério. Outro desafio é a implementação da educação digital. Na verdade nós usamos muito a tecnologia, mas na realidade esta não é importante para nós. A tecnologia é apenas uma ferramenta e não o conteúdo. E é o conteúdo que é o responsável pelo desenvolvimento educacional. A tecnologogia não representa um dos fatores chaves do nosso desenvolvimento. Quero agradec er e dizer que esta é uma das nossas paixões. Bem…se vocês assitem a fórmula 1 e veem o Kimi Haikoinen é difícil imaginar que o finlandês possa ter paixão por alguma coisa! Mas se nós temos alguma, a nossa paixão é a educação e nós adoramos falar sobre isto Obrigada!

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